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"Mulher, por que choras?"



Com estas palavras o Senhor Jesus confirmou sua ressurreição apresentando-se a Maria Madalena. E no mesmo diálogo Ele a envia com uma mensagem, uma direção clara para  seus outros discípulos que até então estavam desconsolados e desorientados: “Ide dizer a meus irmãos que se dirijam para a Galiléia, e lá me verão.” Mat. 28:10
Por que o Senhor teria feito isso? Não seria mais prático apresentar-se logo a algum dos seus companheiros homens? Quem acreditaria numa mulher? E principalmente, quem seguiria uma ordem transmitida por uma delas?
Mas aqueles homens abalados momentaneamente em sua fé, só precisaram testificar por si próprios o milagre da ressurreição. Depois disso, a ordenança foi prontamente aceita, sem questionamentos. Sim, eles iriam para a Galiléia!
É certo que Jesus já havia mencionado isso, em seus últimos momentos juntos, durante a Ceia. Mas o impacto da crucificação foi forte o bastante para fazê-los perder o rumo, o que o Mestre também já havia previsto “Todos vós esta noite vos escandalizareis, pois está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão.” Mc. 14:27
Então o Senhor Jesus usou esta mulher (ou mulheres) para retomar o comando, indicando qual seria o próximo passo (ou reafirmando sua direção).
O que importa aqui é observar a relação de igualdade que havia entre os discípulos e as discípulas de Jesus. Aqueles homens, principalmente os 12 escolhidos para serem mais próximos de Cristo, pertenciam a uma cultura que hoje seria chamada de machista. Mas eles caminharam com o Mestre, o bastante para perceber que Jesus não fazia distinção entre os sexos. Ele veio para todos.
Em seu contato com as mulheres, Jesus adotou posturas revolucionárias, chocantes para a cultura da época e aparentemente contrárias à própria Lei Mosaica (Marcos 16:9, Lucas 7:37-50, João 4:9; capítulo 8:4-11).
Seus apóstolos vivenciaram isso e certamente entenderam que  ao enviar Seu filho, Deus estava cumprindo o seu propósito de resgatar todas as coisas – inclusive a condição feminina, desgraçada pelo pecado de Eva.
Jesus representava a reconciliação de Deus com o homem… e também com a mulher. Ele era o cumprimento da profecia proferida no Éden (Gen. 3:15). Ele é o descendente que veio para esmagar a cabeça da serpente. Nota-se, nascido de mulher.
Se acreditamos que o pecado de Adão foi finalmente pago na Cruz, porque a maldição da desobediência ainda estaria sobre a cabeça de Eva?
Digo isso, porque em grande parte da Igreja de Cristo hoje, esta é a situação das mulheres. Somos vistas como discípulas de segunda categoria, olhadas com desconfiança e oprimidas. A todo momento, parecem esperar de nós que estejamos falando em nome de satanás, novamente sendo enganadas pela serpente. E porque não seria assim, não somos todas Evas?
Tenho presenciado verdadeiras barbaridades como fruto desta incompreensão. Mulheres ungidas enterrando seus talentos por falta de espaço dentro das congregações. Líderes que literalmente usam o trabalho de esforçadas irmãs para se promoverem, colocando-se em lugar de honra. Igrejas inteiras são levadas nos joelhos das mulheres. São elas que intercedem, elas que buscam, elas evangelizam, elas que visitam os enfermos e as pessoas em dificuldade. São mulheres cheias do Espírito. Mas dentro da congregação não podem pregar a Palavra de Deus – porque são mulheres.
Elas cuidam das ovelhas, choram por elas, jejuam, se preocupam, aconselham, mas não podem ser chamadas pastoras – porque são mulheres.
Até mesmo o simples ato de ungir um enfermo com óleo em Nome do Senhor não pode ser executado por elas – porque a recomendação de Tiago (5:4) sobre chamar os presbíteros da igreja é levada ao pé da letra. E se o presbítero não puder comparecer, então Jesus vai ter de curar o doente sem óleo mesmo. E é claro que Ele faz isso, pela fé das irmãs.
A questão nestas igrejas é nunca permitir à mulher qualquer cargo de liderança, mesmo que elas tenham recebido autoridade do céu. No máximo elas serão Diretoras dos Círculos de Oração ou Regente do Coral, qualquer coisa assim, que não ameace a supremacia masculina. Acaba acontecendo que muitas delas desenvolvem seus ministérios fora das congregações, de forma nunca reconhecida, sem apoio e sem a interação necessária com o resto do corpo, o que pode se tornar até perigoso.
Quando estes trabalhos crescem muito, a ponto de provocar ciúmes na liderança da igreja, a irmã recebe um ultimato – ou para, ou precisa se desligar da congregação. Algumas fazem isso, mas dificilmente assumem que são líderes autênticas de uma nova congregação. Rapidamente elas procuram um “pastor” ou “presbítero”, qualquer um que seja homem, para  colocar “na frente do trabalho”. E fazem isso por dois motivos:  para evitar mais perseguição, ou porque elas mesmas não se sentem seguras em assumir aquilo que receberam do céu contra tudo o que lhes foi ensinado aqui na terra.
Se esta mulher tiver um marido, certamente ela se esforçará extremamente para que ele receba a mesma visão que ela e tenha o mesmo chamado, ande na mesma unção. Então todos os seus conflitos estariam terminados, pois ao marido caberia toda a responsabilidade.
Mas e quando isso não é possível? E quando o marido nem é convertido, ou recua na fé? E quando ele mesmo, voluntariamente recusa o chamado, acabou-se o ministério dela?
Acho que a igreja de Cristo precisa ampliar o seu campo de visão. Em algum ponto nos perdemos e estamos andando na contramão do Espírito Santo.
 Precisamos revisar os conceitos de autoridade espiritual, para que cheguemos ao verdadeiro entendimento do que seja uma liderança. Precisamos nos despojar das tradições acumuladas ao longo de séculos para voltar à pureza do verdadeiro cristianismo e nisso entra a questão feminina.
Deixo claro que não pretendo negar os ensinos passados pelo Apóstolo Paulo, que visavam corrigir anomalias na formação das igrejas naquela época. É evidente que estes ensinos ainda são úteis hoje, em igrejas que possam ter os mesmos problemas. Refiro-me às passagens de I Cor. 14 (34,36) e I Tim 2 (9,15). É claro que existe um princípio divino a ser respeitado na submissão da mulher a seu marido, mas isso não tem nada ver com opressão ou com o domínio de um pelo outro. É claro que isso não justifica a anulação da mulher como alguém que vem em segundo lugar. Deus não nos criou para isso. Deus criou a mulher porque viu que o homem precisava de uma companheira (não era bom que ele estivesse só). Não foi só para fazer companhia, mas como adjutora, alguém que vem para somar. E também não nos criou do barro, mas nos tirou do próprio homem já moldado, um pedaço dele. Então como ele poderia desprezar a sua própria carne?
Está tudo mal compreendido porque não se olha para Jesus. E ele é a pedra, Ele é o prumo. Quando nos casamos formamos com nosso marido uma só carne. Mas quando recebemos ao Senhor, então seremos um só espírito com Ele.
O casamento na carne se desfaz com a morte de um dos cônjuges. O casamento no espírito nunca se desfaz. Jesus esclareceu a questão respondendo que na ressurreição dos mortos ninguém haverá de se casar ou ser dado em casamento, mas seremos como os anjos, todos filhos de Deus (ver Luc. 20: 27,36) Portanto, cada um dará conta de si mesmo a Deus.
Compreendo, e muito bem, que dentro de um casamento a autoridade do marido deve ser respeitada. Ele deve ser honrado por sua esposa, assim como os filhos devem honrar os pais e todos devemos honrar os mais velhos. Nas decisões que dizem respeito à família, ambos tem papéis bem distintos. A mulher não pode ocupar o lugar do homem e vice-versa. Aliás, este também tem sido um outro erro da igreja (a comentar em outro momento) consentir ou até estimular a inversão de papéis, participando desta visão mundana que coloca a mulher longe de casa e da educação dos filhos para que o casal possa “prosperar”. Neste caso, quase ninguém se escandaliza quando a mulher assume o lugar de mantenedora e chefe de família.
Mas se nos escandalizamos por ver mulheres na liderança dos ministérios é porque ainda não compreendemos que “o homem só pode receber o que lhe é dado do céu”, como disse João Batista. É porque ainda vemos a expressão autoridade espiritual como algo palpável, humano, ou algo que pode ser controlado pelos homens. E tentamos encaixotar os pensamentos de Deus, de forma que os nossos raciocínios fúteis possam alcançar.
O esclarecimento começa quando nos humilhamos para reconhecer que ninguém tem autoridade em si mesmo – toda a autoridade pertence a Deus e Ele a delega a quem quer, principalmente na Sua Igreja. Não importa que os homens constituam príncipes, pastores, presbíteros, apóstolos, segundo o seu próprio entendimento; Deus não os reconhece como autoridade.
Em segundo lugar, nenhuma autoridade, mesmo constituída por Deus, é maior do que o próprio Deus. Logo, sejam maridos, sejam pastores, delegados, o presidente da república, a ninguém devemos obediência maior do que a Deus. E este é um princípio absolutamente expresso na vida de Jesus (que obedeceu até a morte e morte de Cruz).
Reconhecendo este princípio, podemos entender porque Sara, citada como exemplo de submissão a seu marido, ordenou a ele que fosse lançada fora a escrava e seu filho. E Deus concordou com ela, porque Sara estava se posicionando de acordo com a vontade do próprio Deus.
Também dá pra compreender porque Safira recebeu a mesma punição que Ananias, ao mentir para o Espírito Santo (At. 5:1 a 16). Que culpa teria ela se não pudesse discordar de seu marido? Afinal ela estava debaixo da autoridade dele. Ou não? Ah, sim, existe a autoridade de Deus e esta é maior que a do marido.
Concluindo, com marido ou sem marido, o que vale mesmo é obedecer a Deus naquilo que sabemos ser a vontade Dele. E naquilo que não sabemos, seria sábio orar por mais entendimento, ao invés de simplesmente seguirmos a multidão.

“Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor” Isaías 55:8

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